Quem sou eu

Minha foto
Apaixonada pela poesia e pela beleza que há na vida.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Fim de Ano

São os meses
São os dias
as horas todas as vezes

Quantas depois
se iniciam
retornando ao seu alpendre

São os anseios
São os sonhos
a esperança e o devaneio

Quando o ano
no seu fim
torna ao começo em seu veio

De Maria Teresa Horta, poetisa portuguesa, nascida em Lisboa.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Alves Bento Belisário

Vi no voos dos pássaros
O entardecer escapar-se por entre
Os traços verdes do arvoredo.
Sob os olhos do anoitecer uma alma
Amparada no florir de um beijo
Em instantes de sol e doçura;
Um coração a sangrar por nada ter
Para dar e tudo perder e um homem
Que toda a sua riqueza consigo transporta.

E vi sombras de fogo num peito,
Uma alegria descontente em horas
Que são minutos quando dois corpos
Em seu leito se enamoram; e vi bolsos
De mar e de luz no desassossego
E em tudo vi a criança eterna...
Vi-me a mim.

De Alves Bento Belisário (Inquietudes, 2005)

sábado, 26 de dezembro de 2009

Renata Pereira Correia

Nas asas do meu pensamento,
Levito,
Procuro no ser espelhado de cada um,
O que me transforma e me alimenta,
Voo na direcção do que me complementa,
Conheço o desconhecido que me atrai,
Suspiro por um qualquer momento que divago,
Aspiro sentimento em tudo o que encontro.

Ave rara essa que voa sem rumo,
Rumo talvez encontrado,
Num qualquer momento que me apazigua,

Ave que pinta,
Que paira nas nuvens que encontra,
Que se delicia no vazio que preenche.

Indomável ser,
Que sou,
Que encontro no sonho,
A razão da existência,
E que na porta entreaberta,
Procuro um qualquer ser humano,
Rico no pensar,
Rico no sentir,
Rico em tudo o que abriga.

Por Renata Pereira Correia

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Mistério





Mistério

Florbela Espanca

Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!

sábado, 12 de dezembro de 2009

Um pouco de Pessoa


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...


Alberto Caeiro (um dos heteronômios de Fernando Pessoa), em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Rua da Poesia


Rua da Poesia

Moro na rua da poesia
Na rua das palavras mais belas
Na escrita, minha doce melodia
Onde os versos ornamentam as janelas

Irradia de luz a minha rua
Quando à noite me sento junto a ela
Acompanhada pelas rimas e pela lua
Traço palavras, como quem pinta sobre a tela

Deixo o meu traço bem marcado
Para quem a minha rua visitar
Cada janela terá o meu fado
Para quem me possam sempre cantar

Moro na rua da poesia
Na rua onde se pode renascer
Na escrita, minha doce melodia
Desta herança que nunca há-de morrer.

Paula Martins é poetisa portuguesa.
Para conhecer sua obra visite: http://www.paula-reflexoes.blogspot.com

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Poesia Portuguesa

Dezembro é o meu mês. Nasci no dia 26 no Rio de Janeiro. Sou descendente de portugueses e espanhóis e este mês quero prestar uma homenagem à poesia portuguesa.

Vou postar poemas dos poetas e poetisas de Portugal, sejam conhecidos ou não do grande público.
Espero que gostem e apreciem!
Feliz Dezembro!!!!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Homenagem a Dezembro

Não sabia que havia papoilas em Dezembro!

Acordei cinzenta como o dia num mesclado de vazios e
saudade.
Liguei o piloto automático algures dentro de mim e por
momentos, fiquei, fui e fiz nenhures.
Já me conheço o suficiente para saber o que significa
acordar assim incolor, sem sabor e sem sentido… Por
achar que não devo nada à telha, permiti-me a um
rasgo de lucidez e resolvi ir caminhar.
Abençoado momento.
Pudessem as palavras traduzir fidedignamente o
quanto nos dá o Amanhecer…
Pudesse o orvalho traduzir-se na mais bela Melodia,
Os aromas da manhã em Poesia
E a quietude na Tua companhia…
Porque o verde dos caminhos invade sem invadir
O Outono continua a dormir
As flores teimam em colorir
E a Natureza dá-se por inteiro a descobrir…
E hoje, no dia primeiro do mês último,
Descobri no meio do tanto verde imposto, uma Papoila!
- Não sabia que havia Papoilas em Dezembro! -
Mas ei-la tão frágil quanto firme, tão singela quanto
bela
Num vermelho escarlate que me invadiu de esperança,
Amor
E de mil sorrisos em esplendor…
Depois, escapou-se-me uma lágrima, e outras mais, de
contemplação,
E encheu-se novamente de cor o meu coração.
Incrível o alento que uma simples Papoila pode dar!
Inolvidável o Momento.
Inevitável o Registo
Imprescindível a Partilha.

Sandra Nóbrega (Fly)
Para ler mais poesias de Fly, visite http://sarrabeca.blog.com/


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Uma Arte

Uma arte

A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.

Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.

Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.

- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
amado), mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - escreva tudo! - lembre desastre
.

Tradução de Horácio Costa

sábado, 21 de novembro de 2009

Todas as Vidas


Todas as Vidas
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem-feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
- Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera das obscuras.
Cora Coralina, doce senhora da cidade de Goiás, fez versos que encantam pela simplicidade e dignidade que carregam. Não há mais o que falar. Cora fala por si.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Elizabeth Bishop

Elizabeth Bishop, poetisa estadunidense, nasceu no estado de Massachusetts e morreu no Rio de Janeiro (1911 - 1979). Passou uma boa temporada no Brasil, onde conheceu, se apaixonou e viveu o amor ao lado Lota Macedo de Soares.
Bishop produziu pouco, pois não acreditava que algo para ser bom precisava ser grande. Mas nem por isso sua obra é sem importância. Muito pelo contrário. Foi sem dúvida um dos maiores expoentes da poesia estadunidense.
Em 1976, foi a primeira mulher a receber o prêmio International Neustadt Prize for Literature (Prêmio Internacional Neustadt de Literatura). Também foi agraciada com os prêmios Pulitzer, Nacional Book Award (Prêmio Nacional do Livro) e National Book Critics Circle Award (Prêmio Nacional do Círculo dos Críticos Literários).
Aos poucos irei deixando por aqui a arte dessa extraordinária mulher.

"Juntas, coladas, a noite toda
As amantes estremecem
durante o sono,
Próximas como duas páginas
do mesmo livro
Que se lêem no escuro
Cada uma sabe a outra
De cor, minuciosamente,
Da cabeça aos pés"

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Ao Espelho

O que mais me aproveita
em nosso tão freqüente
comércio é a tua
pedagogia de avessos.
Fazem-se em nós desfeitos
as virtudes que ensinas:
o brilho de superfície
a aprofundidade mentirosa
o existir apenas
no reflexo alheio.
No entanto, sem ti
sequer saberíamos
o outro de um outro
outro por sua vez
de algum outro, em infinito
corredor de espelhos.
Isso até o último
vazio de toda imagem
espelho de um si mesmo
anterior, posterior
a tudo, isto é, a nada.

José Paulo Paes (1926-1998), poeta, escritor, crítico e ensaísta brasileiro.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Uma alegria para sempre

As coisas que não conseguem ser
olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides... Que importa se -
depois de tudo - tenha "ela" partido,
casado, mudado, sumido, esquecido,
enganado, ou que quer que te haja
feito, em suma? Tiveste uma parte de
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte de tua vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura...
A thing of beauty is a joy for ever
- disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer.

Poema de Mário Quintana para Elena Quintana, sua sobrinha-neta e única herdeira de sua obra.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Canção na plenitude

Canção na plenitude
Lya Luft


Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

Extraído do livro "Secreta Mirada", Editora Mandarim - São Paulo, 1997, pág. 151.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Quando te vejo

Quando eu te vejo
Quando eu te vejo, penso que jamais
Hermíone foi tua semelhante;
que justo é comparar-te à loura Helena;
não a qualquer mortal;
oh eu farei a tua formosura
o sacrifício dos meus pensamentos,
todos eles, eu digo, e adorarte-ei
com tudo quanto eu sinto.

Safo nasceu em Mitilene, an Ilha de Lesbos. Foi uma poetisa apreciada na antiguidade. Foi elogiada por Platão e foi citada em odes por Alceu, Horácio e Ovídio.

domingo, 1 de novembro de 2009

Novembro

Novembro
(Bruna Lombardi)

"As amarílis eram mais altas do que nós. E muito
mais sábias. Tirávamos fotografias inocentes e
brincávamos de náufragos. Mas nunca fomos
além da primeira curva. Da primeira pedra.
Sabíamos zumbir e o ar da tarde nos trazia
desejos estranhos.
Sabíamos a hora das lagartixas e respeitávamos
esse ritual sem palavra.
Você colecionava caracóis e isso dava um sentido à
[vida.
Eu não sei que tanto medo eu tinha que te pedia
coisas impossíveis. Ir pra saturno, adivinhar-me o
sonho, romper as barreiras da carne, comer uma
fruta amarela pequenina que eu comi uma vez e não
sei o nome, dizer se eu vivi em outro tempo e qual.
Só te pedia coisas impossíveis. Sentir exatamente o
que eu sinto o capim agridoce a nostalgia de coisas
que eu não vi. Coisas impossíveis.
Não sei se o medo era do mergulho ou de voltar
à tona. Mas as noites lá eram mais interiores.
Coisas da alma.
Besteiras. E nós gastávamos melhor essas
palavras. Coisas de infinito. De quem não sabe o
que são estrelas. Nós que pomos estrelas no
prato, na cama. Tudo reflete. Nós não sabemos
nada. Nem de estrelas nem de alma. Não sabemos,
somos pequenininhos, pequenininhos, menores
do que as amarílis.
De noite do que os vagalumes."

sábado, 24 de outubro de 2009

A Pele do Desejo




Já falei em outro post que trechos de livro podem ser classificados como poesia. À época citei um dos livros de Garcia Márquez.
Hoje trago um antigo, A Pele do Desejo (original em francês Les Vaisseaus du Coeur). Conheci o livro através do filme de mesmo nome em portugues (original em ingles Salt On Our Skin) do diretor Andrew Birkin, com os atores Greta Scacchi, como George, e Vincent D'Onofrio, como Gawain. Na cena final George recebe um pedaço de papel com palavras escritas por Gawain e, acreditem, são emocionantes. Infelizmente, o filme não foi lançado em DVD por essas bandas.

Recentemente, comprei o livro em um sebo para me deliciar com uma estória de amor tão delicada entre duas pessoas tão diferentes. No livro o bilhete de Gawain para George não é o gran finale. Mas, as palavras são de um sentimento, de uma profundidade, que me emocionam a cada vez que as leio.


"Antes eu tinha a impressão de que os dias eram todos parecidos e que eles iam ser parecidos até eu morrer. Desde que conheci você... não me peça para explicar. Só sei que quero segurá-la na minha vida, e nos meus braços de vez em quando, se você concordar. Você considera o que acontece com a gente um pouco como uma doença. Se é doença, eu não quero me curar. A idéia de que você existe em algum lugar e de que você pensa em mim às vezes me ajuda a viver."


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Para que sejamos necessários

Transfere de ti pra mim essa dor
de cabeça, esse desejo, essa violência.
Que careça em ti o meu excesso
e que me falte o que tu tens de sobra.

Que em mim perdure o que te morre cedo
e que te permaneça o que tenho perdido.
Que cresça, se desenvolva um teu sentido
que em mim desapareça.

Dá-me o que de possuir tu não te importas
e eu multiplico o que te falta e em mim existe
para que nosso encaixe forme uma unidade -
[indivisível -
que não se possa subtrair uma metade.

Mais uma da Bruna, grande poetisa, atriz, mulher.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Nós

Nós
Silva Ramos

Eu e tu: a existência repartida
por duas almas; duas almas numa
só existência. Tu e eu: a vida
de duas vidas que uma só resuma.

Vida de dois, em cada um vivida
vida de um só vivida em dois; em suma:
a essência unida à essência, sem que alguma
perca o ser una, sendo à outra unida.

Duplo egoísmo altruísta, a cujo enleio
no próprio coração cada qual sente
a chama que em si nutre o incêndio alheio.

Ó mistério do amor onipotente,
que eternamente eu viva no teu seio,
e vivas no meu seio eternamente.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Programação de hoje na Bienal

Hoje começa a XIV Bienal do Livro do Rio no RioCentro e vai até o dia 20/9.
Confira a programação de hoje em cada espaço.
Café Literário
18h00 - Do abjeto ao belo na nova ficção - convidados: Lourenço Mutarelli, André Sant´Anna e Ana Paula Maia - Mediadora: Rachel Bertol.
20h00 - O papel da escrita no contexto multimídia - convidados: Michel Melamed, Santiago Nazarian, Cecília Giannetti - Mediadora : Suzana Vargas.
Mulher e Ponto
17h00 - O Livro na Bolsa - Dicas de escritoras ganham espaço nas estantes - convidadas: Leila Ferreira e Danuza Leão - Mediadora: Sonia Biondo.

Começa hoje a Bienal do Livro do Rio

Começa hoje a XIV Bienal do Livro no Rio Centro e vai até o dia 20/9. Vale a pena visitar os estandes dos editores para conferir as novidades e lançamentos e assistir as palestras.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Bienal do Rio

Não percam a Bienal. Os debates e palestras prometem ser muito bons. Confiram a programação no sítio eletrônico http://www.bienaldolivro.com.br/.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Quinta Cultural do T-Bone

Hoje é dia do projeto Quintas Culturais do Açougue Cultural T-Bone (312 Norte) e convidado para falar de poesia é o jornalista e escritor Paulo José Cunha, autor de O salto sem trapézio (poesia) e A noite das reformas (análise dos bastidores da revogação do AI-5). Na programação consta, ainda, o lançamento do livro "O mundo depois do fim", do jovem brasiliense Gabriel Marinho.
O ritual poético fica a cargo da turma da Tribo das Artes e a música por conta de Niltinho Legal, vocalista da Banda Zaktar.
O evento começa às 20 horas e a entrada é franca.
Vale a pena conferir!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Setembro

Em homenagem ao mês de setembro. Fim do outono, início da primavera. Cores e cheiros tomam conta da cidade.
Com vocês, o poema da niteroiense Helena Guimarães.

MANHÃS DE SETEMBRO

Manhãs de Setembro,
aragem fresca
construindo sonhos,
teias de gotas
enfeitando os matos,
perfume verde
a seguir meus passos,
lírios roxos
ponteando as margens
do fio de água
que escorre manso.
E tu E eu!
E a erva tombada
pelos corpos,
os lírios violados
na paixão.
E o céu!
Esse céu azul
sem limite.
O nosso limite.
A nossa eternidade!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Homenagem a Catalunya

No demano gran cosa:
poder parlar sense estrafer la veu,
caminar sense crosses,
fer l’amor sense haver de demanar permisos,
escriure en un paper sense pautes.
O bé, si sembla massa:
escriure sense haver d’estrafer la veu,
caminar sense pautes,
parlar sense haver de demanar permisos,
fer l’amor sense crosses.
O bé, si sembla massa:
fer l’amor sense haver d’estrafer la veu,
escriure sense crosses,
caminar sense haver de demanar permisos,
poder parlar sense pautes.
O bé, si sembla massa...



Não peço grande coisa:
poder falar sem disfarçar a voz,
caminhar sem muletas,
fazer amor sem ter de pedir licença,
escrever num papel sem pautas.
Ou então, se parecer demais:
escrever sem ter de disfarçar a voz,
caminhar sem pautas,
falar sem ter de pedir licença,
fazer amor sem muletas.
Ou então, se parecer demais:
fazer amor sem ter de disfarçar a voz,
escrever sem muletas,
caminhar sem ter de pedir licença,
poder falar sem pautas.
Ou então, se parecer demais...





Miquel Martí i Pol, nasceu em 19/3/1929 e faleceu em 11/11/2003. Foi e é um dos maiores expoentes da poesia catalã.
Iniciou sua carreira literária na década de 50. Seus versos foram musicados e interpretados por artistas renomados, o que contribuiu para que, ao final da década de 70, fosse o poeta mais popular e também o mais lido.
Martí i Pol fez de sua arte uma forma de descrever e denunciar os diversos aspectos da vida operaria com ternura, evitando o tom pnafletário.
A partir de 1970, devido a uma esclerose múltipla, que paulatinamente dificultou seus movimentos e sua fala, seus versos foram dominados pela solidão, pela angústia, pela morte. Mas, a partir de 1976, seus livros voltam a ser dominados por temas otimistas. Essa fase cheia de vitalidade o acompanha até o início da década de 90, quando o pessimismo e a decepção voltam a marcar seus textos.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Máscara

MÁSCARA










Passa o tempo da face
E o prazer de mostrá-la.
Vem o tempo do só,
A rua do desgosto,
O trilho interminável
Numa estrada sem casas.
O final do espetáculo,
A sala abandonada,
O palco desmantelado.

Do que foi uma face
Resta apenas a máscara,
O retrato, a verônica,
O fantasma do espelho,
O espantalho barbeado,
A face deslavada,
Mais sulcada, mais suja,
De beijada, cuspida,
Amarrotada
Como um jornal velho.
Máscara desbotada
De carnavais passados.
Esta é a nossa cara
Escaveirada.
Até que a terra
Com sua garra
Nos rasgue a máscara.

Dante Milano (1899-1991), poeta carioca avesso a publicidade. Tem apenas um único livro publicado (Poesias) em 1948 por amigos e a sua revelia.
Ivan Junqueira publicou uma antologia sobre o poeta em 1998.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Mulher ao Espelho

MULHER AO ESPELHO
Cecília Meireles


Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz,
já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Que mal fez essa cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se é tudo tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Revista Granta


A Granta surgiu na Inglaterra em 1889, fundada por estudantes da Universidade de Cambridge. No final dos anos 70 ganhou a forma atual, livro/revista e está no número 107.

Para muitos Granta é a revista literária mais influente do mundo e, ao longo de sua existência, revelou nomes como, por exemplo, Hanif Kureishi (O álbum Negro e O Dom de Gabriel), Ian McEwan (O Jardim de Cimento e O Sonhador), Martin Amis (Campos de Londres e Trem Noturno) e Jonathan Franzen (A Zona de Conforto: Uma História Pessoal).


Em 2007 foi lançada Granta nº 1 em português. Hoje, está no nº 4 e o tema central é a ambição. Este número traz Annie Proulx, autora de O Segredo de Brokeback Mountain, Luis Fernando Veríssimo, Milton Hatoum, Elena Lapin, entre outros.

Aqui no Brasil a Granta é editada pela Objetiva (http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/) e pode ser encontrada na Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br/).




terça-feira, 18 de agosto de 2009

Bienal II

A Bienal do Livro do Rio 2009 está chegando e alguns nomes já estão confirmados:


- Joseph O´Neil, autor de "Terras Baixas";

- Bernard Cornwell, autor de "O Rei do Inverno", "O Condenado", entre outros;

- Eli Gottlieb, editor da Revista Elle;

- Dean Karnazes, ultra maratonista, autor de "50 maratonas em 50 dias";

- Meg Cabot, autora de "O Diário da Princesa" e "Formaturas Infernais".


No Café Literário será celebrado os 100 anos de morte de Euclides da Cunha, autor de "Os Sertões".


Visitem o sítio eletrônico da Bienal: www.bienaldolivro.com.br para ver a programação completa.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A Graça

Déborah de Paula Souza, paulistana, jornalista. A marca da sua poesia é leveza e o lirismo com que dispõe o cotidiano. Tem dois livros publicados, 'Moça Mousse Musselina' e 'O Livro Vermelho'.

A GRAÇA

Diante da poesia de tudo
é que eu enfim me ajoelho
e aperto os olhospra focar seu lume

Estas palavras nunca foram minhas
— a poesia é dona de si mesma —
e distribui suas senhas faiscantes

Estou a seus pés
e a mãe do mundo me abençoa
ela tem suas vaidades, brinca comigo
me afaga e me atordoa

Vive em seu altar
em luxo de montanhas e placentas
repleta de diamantes

São dela todas as coisas
as palavras, as nascentes, as faíscas
este instante

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Silêncio

O Silêncio
Mario Quintana


O mundo, às vezes, fica-me tão insignificativo
Como um filme que houvesse perdido de repente o som.
Vejo homens, mulheres: peixes abrindo e fechando a
[boca num aquário
Ou multidões: macacos pula-pulando nas arquibancadas
[dos estádios...
Mas o mais triste é essa tristeza toda colorida dos
[carnavais
Como a maquilagem das velhas prostitutas fazendo
[trottoir.













Às vezes eu penso que já fui um dia rei, imóvel no
[seu palanque,
Obrigado a ficar olhando
Intermináveis desfiles, torneios, procissões, tudo isso...
Oh! Decididamente o meu reino não é deste mundo!
Nem do outro...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Em homenagem a Pirenópolis

Estive em Pirenópolis para um final de semana de descanso e paz. Fui com Déia e minha mãe. Foi uma delícia.
Para celebrar, resolvi conhecer um pouco da produção poética da cidade e descobri Ridamar Batista, que nas palavras dela mesma é poetisa, mãe e mulher e é feliz por isso.

Herança

O grito da senzala
ecoa dentro de mim
no choro agudo das chibata
se as formas arredondadas
no balanço das cadeira
fazem minhalma serenar
e as saudades se amenizam.
O pranto se esvanece
a dor das injustiças desaperece
e dá lugar à certeza do sonho
perseguido e conquistado.
A senzala dá lugar ao lar
e o sabor do alimento
inventado na escassez de tudo
volta com cheiro de vitória.
Assim é meu povo forte
delicado e carinhoso
como o balanço harmonioso
das cadeirasdas mulheres guerreiras
no cotidiano de esvaziar as tulhas
lavar os panos, assear as casas.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Seletiva Câmara Brasileira de Jovens Escritores

Estão abertas as inscrições para a seletiva de agosto da Câmara Brasileira de Jovens Escritores – CBJE. O período de inscrição é de 1 a 25/8, somente pelo sítio eletrônico da CBJE (http://www.camarabrasileira.com/).

A CBJE tem como principal objetivo "... incentivar a produção literária de jovens autores publicando em livro suas poesias, contos, crônicas, romances ou qualquer outra forma de expressão literária...".

Devo ressaltar que a expressão “jovens” não tem nada a ver com idade cronológica, mas sim com o espírito vívido que habita cada um de nós.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Ofício: escritor/poeta




Dylan Thomas, nasceu em Swansea, no País de Gales, e em sua curta vida deixou poemas que o tornaram um dos mais renomados e influentes poetas de língua inglesa.



EM MEU OFÍCIO OU ARTE TACITURNA


Em meu ofício ou arte taciturna
Exercido na noite silenciosa
Quando somente a lua se enfurece
E os amantes jazem no leito
Com todas as suas mágoas nos braços,
Trabalho junto à luz que canta
Não por glória ou pão
Nem por pompa ou tráfico de encantos
Nos palcos de marfim
Mas pelo mínimo salário
De seu mais secreto coração.

Escrevo estas páginas de espuma
Não para o homem orgulhoso
Que se afasta da lua enfurecida
Nem para os mortos de alta estirpe
Com seus salmos e rouxinóis,
Mas para os amantes, seus braços
Que enlaçam as dores dos séculos,
Que não me pagam nem me elogiam
E ignoram meu ofício ou minha arte.


Traduzido por Ivan Junqueira

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Agosto

Em homenagem ao mês de agosto, um poema de Neruda...

"Acontece

Bateram à minha porta em 6 de agosto,
aí não havia ninguém
e ninguém entrou, sentou-se numa cadeira
e transcorreu comigo, ninguém.

Nunca me esquecerei daquela ausência
que entrava como Pedro por sua causa
e me satisfazia com o não ser,
com um vazio aberto a tudo.

Ninguém me interrogou sem dizer nada
e contestei sem ver e sem falar.

Que entrevista espaçosa e especial!"

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Bienal

Gente, vem aí a Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Será no período de 10 a 20/9/2009, no Riocentro. O país homenageado desta edição são os Estados Unidos da América.
Até o início da Bienal irei colocando mais informações aqui no blog.

domingo, 2 de agosto de 2009

Affonso Romano de Sant'Anna

Affonso Romano de Sant'Anna é um escritor atual. Escreve crônicas , prosas e versos. Suas poesias são do tempo presente e retratam o cotidiano. Sobre as poesias de Sant'Anna, Wilson Martins escreveu: "A de Affonso Romano de Sant'Anna é grande poesia por ser literatura, por ser uma criação intelectual (não cerebral)..."

Silêncio Amoroso I

Deixa que eu te ame em silêncio.
Não pergunte, não se explique, deixe
Que nossas línguas se toquem, e as bocas
e a pele
falem seus líquidos desejos.

Deixa que eu te ame sem palavras
a não ser aquelas que na lembrança ficarão
pulsando para sempre
como se amor e vida
fossem um discurso
de impronunciáveis emoções.

sábado, 1 de agosto de 2009

Cesário de Sousa

Numa noite de 1995, estava com colegas de trabalho no Libanus. Provavelmente era uma sexta-feira, nem quente nem fria, típica do mês de agosto.
Passavam ambulantes, não os coreanos de hoje com suas quinquilharias eletrônicas. Naquele tempo, vendia-se incenso, bijus, livros. Um desses andarilhos noturnos de bar em bar, era o Cesário com seus livros de poesia, publicados por ele mesmo.
Apaixonada que sou pelos versos, comprei um exemplar do livro Utopia Cor Ação.
As poesias de Cesário têm a simplicidade do homem comum que encontrou na caneta e no papel a melhor forma de externar seus sentimentos todos.

Um Fim

Devem voar
os corações de pássaro
amarras não mais amarrar

Quando a gota d'água
rompe os diques da ilusão
da flor do amor perfeito
amor ferido sonho desfeito

Não devíamos chorar
doer vem de longe nos tempos
o querer continua seu caminhar

Há que compreender
- viver de intenso amar imenso -
o coração de pássaro.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Castro Alves

Hoje olhando a estante deparei-me com três pequenos volumes de poesias de Castro Alves. Ganhei os livros de minha mãe. Não sei precisar o ano em que foram editados, mas são do início da década de 70.
Castro Alves foi o primeiro poeta que li, ainda criança. Na adolescência o conheci melhor. Percebi o quanto combateu a escravidão - tema recorrente de seus versos, e retratou seus amores.
Amar e ser amado
Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano —,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante — amado —
Como um anjo feliz... que pensamento!?

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Sônia Bittencourt de Sá

Sônia, manauara e filósofa. Mora em Brasília e publicou, juntamente com as poetisas Júlia de Oliveira e Isabel Ramos, em 1999, o livro "Entre Nós: três ensaios poéticos".
Seus poemas carregam um quê de reflexão, de sentimento exposto, de peito aberto. Fazem o leitor querer ler mais uma vez para sorver cada verso. Deixo com vocês um deles.
Ilusão
Penso em vão
tua metáfora.
Um poema
sem tradução,
tua vibração
confundida com a minha,
tua ânsia mergulhada em dor.
Tua entrega
tua ausência,
o que não posso
Explicar
- tu.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Gabriel Garcia Márquez

Até agora postei apenas poesias, mas trechos de livros de tão belos bem poderiam ser poesias.
No livro 'Memórias de minhas putas tristes', último do escritor Gabriel Garcia Márquez, tem um destes trechos poéticos e desde que o li, não posso tirar da memória.

"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco.
...
Me pergunto como pude sucumbir nesta vertigem perpétua que eu mesmo provocava e temia. Flutuava entre nuvens erráticas e falava sozinho diante do espelho com a vã ilusão de averiguar quem sou. Era tal meu desvario, que em uma manifestação estudantil com pedras e garrafas tive que buscar forças na fraqueza para não me colocar na frente de todos com um letreiro que consagrasse minha verdade: Estou louco de amor."
Quando Márquez escreveu estas memórias passava dos noventa e se descobriu nascido sob o signo do amor. Descobriu mais. Descobriu que não importa a idade para estar louco de amor.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Konstantinos Kaváfis

Conheci a poesia de Kaváfis através da minha amiga Paula Martini e não foi difícil ficar encantada com os versos deste poeta nascido em Alexandria. Sua obra é relativamente pequena. Ao todo são 154 poemas, todos escritos em neogrego. Em seus poemas, Kaváfis traz um pouco da história helênica e muito sobre sua vida e seus amores.
O poema Ítaca é uma ode a viagem. Nele, Kaváfis lembra ao leitor que melhor que o próprio destino, é o caminho que percorremos para lá chegar.

ÍTACA
Se partires um dia rumo a Ítaca
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se sutil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares na jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.

Vinicius de Moraes

Vincius não precisa de apresentações. É o "poetinha" carioca. Seus versos são líricos e seus sonetos famosos. Para conhecer melhor a biografia de Vinicius visite http://www.viniciusdemoraes.com.br/.
Poética (I)
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Camuflagens

Camuflagens
Um pouco ela me enfeitiçou
e mesmo quando eu não olhei
senti como ela me encarou
e se insinuou, eu não sei
direito como começou
se eu que um pouco provoquei
se ela meio que rodopiou
e farfalhou até que eu notei
se ela foi que me atiçou
se eu no fundo que gostei
se ela um pouco me levou
ou eu que sem querer deixei
nem sei
ela não tava mais quando acordei.
Bruna Lombardi em Gaia

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Nalgum Lugar Perdido (Mafalda Veiga)
Olhar-te um pouco
Enquanto acaba a noite
Enquanto ainda nenhum gesto te magoa
E o mundo for aquilo que sonhares
Nesse lugar só teu
Olhar-te um pouco
Como se fosse sempre
Até ao fim do tempo, até amanhecer
E a luz deixar entrar o mundo inteiro
E o sonho se esconder
Nalgum lugar perdido
Vou procurar sempre por ti
Há sempre no escuro um brilho
Um luar
Nalgum lugar esquecido
Eu vou esperar sempre por ti
Enquanto dormes
Por um momento à noite
É um tempo ausente que te deixa demorar
Sem guerras nem batalhas pra vencer
Nem dias pra rasgar
Eu fico um pouco
Por dentro dos desejos
Por mil caminhos que são mastros e horizontes
Tão livres como estrelas sobre os mares
E atalhos pelos montes
Nalgum lugar perdido
Vou procurar sempre por ti
Há sempre no escuro um brilho
Um luar
Nalgum lugar esquecido
Eu vou esperar sempre por ti

sexta-feira, 17 de julho de 2009

e.e. cummings

Edward Eastlin Cummings, que literariamente sempre assinou E.E. Cummings, ou melhor, e.e. cummings (em caixa baixa), nasceu em 14 de outubro de 1894, em Cambridge, Massachusetts. Estudou em Harvard, de 1911 a 1915, especializando-se em literatura grega.
Falecido aos 67 anos de idade, e. e. cummings pertence à estirpe dos inventores da poesia moderna, ao rol daqueles poucos que realmente transformaram a linguagem poética de nosso tempo, em sintonia com o prospecto de uma civilização cujos crescentes progressos científicos vão abolindo vertiginosamente as fronteira entre a realidade e a ficção.
Abominado por críticos e poetas conservadores , cummings mereceu, em contrapartida, a admiração de escritores do porte de Marianne Moore, William Carlos William, John dos Passos e Ezra Pound.



"nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra

embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado,eu e

minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala

o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha

e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas"

(tradução: Augusto de Campos)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Florbela Espanca

As poesias da portuguesa Florbela Espanca têm um tom dramático. Seus versos bem poderiam ser fados.

Os versos que te fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

domingo, 12 de julho de 2009

Pablo Neruda

Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, nasceu em 12/7/1904, em Parral, no Chile. Mas, é conhecido como Pablo Neruda. Um poeta romântico e revolucionário. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1971. Em 1973, deixou-nos e seu último livro "O Mar e os Sinos".

Nele, temos um Neruda um tanto melancólico, mas ainda capaz de comover e envolver com seus versos.


"Perdão se pelos meus olhos não chegou

mais claridade que a espuma marinha,

perdão porque meu espaço

se estende sem amparo

e não termina:

- monótono é meu canto,

minha palavra é um pássaro sombrio,

fauna de pedra e mar, o desconsolo

de um planeta invernal, incorruptível.

Perdão por esta sucessão de água,

da rocha, a espuma, o delírio da maré

- assim é minha solidão -

saltos bruscos de sal contra os muros

de meu ser secreto, de tal maneira

que eu sou uma parte do inverno,

da mesma extensão que se repete

de sino em sino em tantas ondas

e de um silêncio como cabeleira,

silêncio de alga, canto submergido"

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Bruna Lombardi

Bruna Patrizia Maria Teresa Romilda Lombardi, mais conhecida como Bruna Lombardi. Seu lado modelo e atriz é muito conhecido do grande público. Seu lado romancista e poetisa pouquíssimo. Mas, acreditem, Bruna escreve e muito bem. Suas poesias são secas, diretas e parece que ao escrevê-las ela não quer deixar impune o leitor.
Um dia, deparei com "O Perigo do Dragão" e que perigo. Devorei cada página, cada verso, cada palavra e terminei seduzida...
"Sedução
Dentro de mim mora o animal
indômito e selvagem
que talvez te faça mal
talvez uma faísca
relâmpago no olhar
depressa como um susto
me desmascare o rosto
e de repente deixe exposto
o meu pior
em mim germina
um força perigosa
que contamina
uma paixão vulgar
que corta o ar e que
nenhum poder domina
explode em mim
uma liberdade que te fascina
sopro de vida
brilho que se descortina
luz que cintila, lantejoula
purpurina
fugaz como um desejo
talvez te mate
talvez te salve
o veneno do meu beijo."
Livros de Bruna
2008 - O Signo da Cidade, roteiro do filme, Imprensa Oficial de SP
2004 - Meu ódio será tua herança, romance, Guanabara Koogan
1990 - Filmes Proibidos, romance,
Companhia das Letras
1987 - Apenas bons amigos, infantil,
Editora Globo
1986 - Diário do Grande Sertão, registro poético das filmagens,
Editora Record
1984 - O Perigo do Dragão, poesias,
Editora Record
1980 - Gaia, poesias, Editora Codecri
1976 - No Ritmo dessa Festa, poesias, Editora Tres

sexta-feira, 3 de julho de 2009

FLIP

O Festival Literário Internacional de Paraty, ou simplesmente FLIP, começou e vai até o dia 5 (domingo). Neste período, a pequena Paraty vira uma grande biblioteca e tudo gira em torno da literatura. O homenageado desta edição é Manoel Bandeira, um pernambucano arretado e que é sinônimo de boa leitura. Deixo aqui um pequeno poema de Bandeira. Viva a poesia!

"Beijo pouco, falo menos ainda
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana
Inventei, por exemplo, o verdo teadorar
Intransitivo: Teadoro, Teodora"

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Mario Quintana

Mario Quintana, soube como poucos "poetar" as emoções com simplicidade e profundida. Suas poesias são de um lirismo ímpar. Não me canso de revisitar seus versos e tenho sempre a sensação de estar lendo pela primeira vez, tal a emoção que desencadeia em mim. Revisitando uma coletânea encontrei "Os Poemas". Aproveite!

"Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti..."
A tempos tenho a idéia de ter um blog para tratar de poesia, mas sempre protelei. Muito por falta de tempo e preguiça nas horas de folga. Mas hoje resolvi mudar esta coisa de ter uma idéia na cabeça e nenhum atitude para realizá-la. Então criei o Casa Poética para publicar poesias minhas e de outros tantos autores consagrados ou não, pretendo também colocar dicas de livros, sítios eletrônicos e tudo o mais que tenha relação com a poesia da vida.
Um grande abraço,
Cris