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Apaixonada pela poesia e pela beleza que há na vida.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Poeminha Amoroso - Cora Coralina


POEMINHA AMOROSO

Este é um poema de amor 
tão meigo, tão terno, tão teu... 
É uma oferenda aos teus momentos 
de luta e de brisa e de céu... 
E eu, 
quero te servir a poesia 
numa concha azul do mar 
ou numa cesta de flores do campo. 
Talvez tu possas entender o meu amor. 
Mas se isso não acontecer, 
não importa. 
Já está declarado e estampado 
nas linhas e entrelinhas 
deste pequeno poema, 
o verso; 
o tão famoso e inesperado verso que 
te deixará pasmo, surpreso, perplexo... 
eu te amo, perdoa-me, eu te amo..."

Cora Coralina
--
Cris Tavares
http://casapoetica.blogspot.com/

quarta-feira, 18 de abril de 2012

saudades

nenhum fim
termina 
pleno
ao peito que se abre

deixará 
sempre
falhas
por suprir

excessos
a reparar
ou
pensares
por dizer

sequer
consola
saber que não há
fim
que deixe durantes

e que nem toda memória
resiste à prova do tempo

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Aquamarine

Transe...
E água escorre
Em um só corpo
E boca sorri
Em um milhão de espasmos...
Lábios
Cálidas ondas derramando em mim
Pernas
Lascivo toque
Ávido de mim
Pulso
Em mesmo sangue
Mesmo gosto
Sublime gozo
E o amor em mim.

domingo, 15 de abril de 2012

Gandaia

amor, socorre
me arranca a roupa me salva
mexe comigo, me bole
me lava

me tira essas coisas todas da cabeça
me tira a saia
você vai ver que eu sou palhaça à beça
que eu gosto de arruaça e de gandaia

amor me acode
deixa eu dançar
nas feiras, nas rodas
desenfrear de todo esse prazer que explode

das liberdades, meu amor, eu quero todas.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Garça

Que ela me venha
Com olhos bem claros
Para acolher-me em abraços
E sem milhões de embaraços
Com sorrisos raros
Logo me entretenha.

Que ela me chegue
Com as asas caídas
Como a garça morta
Que seja a rosa torta
A nortear-me a vida
No momento em que chegue.

Que ela me parta
Com a face serena
Como o luar distante
Para que eu, resignado amante,
Não sinta pena
Dessa dor que me mata.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Clarice Lispector

Saudades

Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

Clarice Lispector 

--
Cris Tavares
http://casapoetica.blogspot.com/

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Trabalho

Deus obrigada por ter me dado o milagre
da criação e por todo caminho
difícil, dolorido, cheio
de medos e recuos que
tento

obrigada pelo desconhecimento
por onde sigo tateando

e pela criança que sou
e que continuarei sendo na minha perplexidade
diante de tudo
do teu absoluto.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Juras

do meu amor
eu farei sempre
um ser liberto
de promessas
com sabor
de tirania

serei seu chão
seu horizonte ameno

seu guardião

sua certeza
de estar sempre
protegida

o mago
de sua paz
sua alegria
e seu sossego

sua sombra
e sua brisa

seu sempre atento aguadeiro
ao longo do vale
de nossa vivenda
no topo
do outeiro

o seu seguro
e mais frondoso atalho

o mais silente e caloroso abrigo

ao fascínio
de todos os seus encantos
e à plena força
de seu poderio

domingo, 8 de abril de 2012

Milena Guimarães Cunha

Milena, uma amiga querida e poeta de mão e coração cheios. 
Tenho o prazer da sua amizade, da sua cumplicidade. E hoje homenageio essa paraense de trinta e poucos anos de muita sensibilidade e paixão.


Metamorfose


Eu sou toda sua
Nua
A mulher que anda na rua
Olhando a Lua
Garota
Marota
Que cheira cola
E vai para a escola
Que no quarto se tranca
Quando chega em casa
À imaginação dá asa
Tem o corpo em brasa
E com um vampiro em casa
Torna-se rainha
Amante e louca
Rouca
De tanto girar para si mesma
Falar de si mesma
Calar em si mesma
E ganhar o mundo
Ganhar a vida
Com o suor do rosto
E a força das mãos.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Horas rubras


Horas profundas,lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas…


Ouço as olaias rindo desgrenhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes.
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p’las estradas…


Os meus lábios são brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras…


Sou chama e neve branca misteriosa…
E sou talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!


(in Antologia de Poetas Alentejanos)