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Apaixonada pela poesia e pela beleza que há na vida.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Galope

alforriado 
cavalguei o tempo 
sentindo o vento 
da ignorância no rosto
infantil

já não sou inocente
e não acredito em liberdade.


Larissa Marques
http://www.larissamarquespoeta.blogspot.com.br

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Parede

inventa uma parede
onde possas encostar-me o corpo
pressionado pelo teu.
uma parede de textura suave.
uma parede única,
onde nos encontremos.
inventa um parede para o amor.

Silvia Chueire


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Tenho fome de tua boca, de tua voz, teus cabelos
e pelas ruas vou sem me nutrir, calado,
não me sustenta o pão, a aurora me desconcerta,
procuro o líquido som de teus pés pelo dia.

Faminto estou de teu sorriso resvalado,
de tuas mãos cor de furioso celeiro,
tenho fome da pálida pedra de tuas unhas,
quero comer tua pele como intacta amêndoa.

Pablo Neruda
De Cien sonetos de amor

domingo, 18 de novembro de 2012

PARA QUE SEJAMOS NECESSÁRIOS

Transfere de ti pra mim essa dor
de cabeça, esse desejo, essa violência.
Que careça em ti o meu excesso
e que me falte o que tu tens de sobra.

Que em mim perdure o que te morre cedo
e que te permaneça o que tenho perdido.
Que cresça, se desenvolva um teu sentido
que em mim desapareça.

Dá-me o que de possuir tu não te importas
e eu multiplico o que te falta e em mim existe
para que nosso encaixe forme uma unidade -
                                                         [indivisível -
que não se possa subtrair uma metade.

Bruna Lombardi
in No Ritmo Dessa Festa

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Tocaia

Que o amor nos possuísse
no meio de um descampado
num jogo que não tem regra
nem pecado.

Numa tortura lenta
com ritual absoluto
que o amor nos possuísse
doce e bruto.

Que houvesse fuga e corrida
e grito agudo na boca.
Que a dança fosse selvagem
e louca.

Com maldade instintiva
guerra de unha e dente
todo impulso desmedido
corpo quente.

Depois na hora do cerco
firmes os cinco sentidos
vem o animal e se envolve
atraído.

Pra que dure mais o jogo
ora foge ou se entrega
se joga se abre provoca
depois nega.

Cúmplice do adversário
de manso se defendendo
vai pouco a pouco à cilada
cedendo.

Corpo todo se espalhando
no meio do descampado
na luta quem não domina
é dominado.

E aí segura a corrente
manseia cavalo bravo
na luta quem não é senhor
é escravo.

Chegada a hora da posse
o momento mais violento
novilha presa arqueia
sem movimento.

No meio do seu combate
foi afinal possuída
e geme pra essa morte
melhor que a vida.

Se enrosca sentindo o gosto
de ter sido capturada
sabendo que foi vencedora
e derrotada.

E depois de tudo resta
um cansaço ainda melhor
sorriso dentro do corpo
fora o suor.

Que o amor nos possuísse
com sensação de perigo
no meio do descampado
como a dois inimigos.

Bruna Lombardi
in No Ritmo Dessa Festa