sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Feliz Ano Novo! Com muita esperança...
que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no
limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e
entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
vez, com outro
número e outra vontade de acreditar que daqui pra
diante vai ser diferente"
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Amor pra Recomeçar
Tudo de muito bom pra todos!!
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Agostinho Neto
Amanhecer
Há um sussuro morno
sobre a terra;
degladiam-se
luz e trevas
pela posse do Universo;
sente-se a existência
a penetrar-nos nas veias
vinda lá de fora
através da janela;
cresce a alegria na alma
a Vida murmura-nos doces fantasias.
Tangem sinos na madrugada
vai nascer o sol.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Bocage
Auto-retrato
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só memento,
E somente no altar amando os frades,
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Bocage
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
80 anos de José Ribamar Ferreira
Em homenagem aos 80 anos, completados hoje, de José Ribamar Ferreira, mais conhecido como Ferreira Gullar.
Um instante
Aqui me tenho
como não me conheço
nem me quis
sem começo
nem fim
aqui me tenho
sem mim
nada lembro
nem sei
à luz presente
sou apenas um bicho
transparente
sábado, 28 de agosto de 2010
Sob o signo da inquietação
do proibido. Muito pra dentro de uma zona
perigosa. A boca da noite. O desconhecido.
Vagos caminhos de uma via nebulosa.
Vários conceitos pra falar da mesma coisa
o susto em nós foi descobrir porteiras
de territórios nunca antes percorridos
no fundo de todos nós um visitante
no fundo a falta de sentido.
Visitantes de nós mesmos cometeríamos
a imprudência de quase enlouquecer
pra chegar à compreensão.
E uma coisa afiada nos conduzia
através da trilha da poesia
e do difícil trajeto da paixão.
Bruna Lombardi
Livro O Perigo do Dragão
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Feira Itinerante de Livros do SENAC-SP
Algumas idéias de tão interessantes deveriam ser replicadas imediatamente. A Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo promove, mensalmente, a Feira Itinerante de Livro em locais previamente agendados.
A idéia é da feira não é vender livros e sim promover a troca de exemplares em bom estado de conservação. O visitante leva um livro (não vale didático) ou gibi e troca por outro exposto.
"A ideia é intercalar uma feira em uma região mais desenvolvida com outra em uma área mais carente. Assim, conseguimos arrecadar obras mais relevantes e levá-las para onde o público mais precisa", explica Marta Nosé, coordenadora dos serviços de extensão da Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas.
Este é o tipo de projeto deveria ser disseminado em todo o país, para incentivar a leitura, bem como a interação entre os leitores. Afinal, estórias de bons livros sempre rendem excelentes conversas.
Anotem aí a data das próximas feiras:
· 19/9 - parque do Carmo
av. Afonso de Sampaio e Souza, 951, Itaquera, zona leste
· 17/10 - parque Mário Covas
av. das Nações Unidas, 7.123, Pinheiros, zona oeste
· 28/11 - parque da Luz
pça. da Luz, s/nº, Bom Retiro, região central
· 12/12 - parque Ibirapuera
av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Moema, zona sul
Liana Timm
o amor é como um gato
comedido
seduz ronronando
armadilha e bote
aconchego e mito
por isso desperto
e grito
--
Cris Tavares
http://casapoetica.blogspot.com/
terça-feira, 24 de agosto de 2010
domingo, 22 de agosto de 2010
Cerrado seco no inverno
Foto: Cris - Ago2010 |
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo
Cris Tavares
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Eternidade
Eternidade
Se eu pudesse definir
Detalhar sem me iludir
O olhar que me seguia
Sutilmente me traía
Se eu pudesse até mentir
Esquecer, talvez fingir
Certamente eu mudaria
Hoje eu não sofreria
Foi o tempo que passou
Me usou, envelheci
Mesmo assim ainda me lembro
Do corpo que me tocou
Tão presente a sensação
Do amor que eu senti
Se era Agosto ou Setembro
Realmente eu não me lembro
Foi um sonho transparente
Tantas vezes re-sonhado,
Foi mentira ou verdade...
Hoje vive a eternidade
Adoniran Barbosa
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Prêmio SESC de Literatura
Cris Tavares
domingo, 8 de agosto de 2010
Uma Noite
sábado, 7 de agosto de 2010
SEMICOISAS
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Menina de olhar ameno
São as silvestres manhãs
Que recordam o ontem
Cujo nome é exclamação
E termina numa dureza que se amacia
Na gentileza da convivência
As velhas estradas, menina,
Que te levam a lugares onde nasce
A religiosidade das serenas noites
São querências gémeas,
Que desde te envolvem
Com a sua simplicidade...
O ar hospitaleiro das tuas mãos
O chamamento dos teus sinos
O sopro de uma mesma brisa
Com gosto de mar e cheiro de açúcar
Minha menina...
Mostras-me a poesia de um sábio
Cuja sabedoria é o amor
À terra traduzido em palavras
A de um artista do traço
Cuja mão leve colhe a seiva que broto, o
Horizonte que te mostro como se fossem flores, e
De explicações dão o toque seguro de luz
Da menina que há nos campos silvestres
E sorri em gargalhadas soltas que ecoam
Qual Van Gogh, com os seus girassóis
Qual Eugénio de Andrade, com a sua Balança
"No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida."
Qual Renato Russo com "Disciplina é Liberdade,
Compaixão é Fortaleza, ter Bondade é ter Coragem!"
Qual Mozart, com a sua Sinfonia Concertante...
Seria milagre que eles te acompanhassem
No teu jardim de sedução...
Onde quero mergulhar na paisagem que me dás
Com olhos encantados
A voz em exclamação,
Amor exacto, a preservar-te Menina.
O teu jardim verde de folhagem
E os azuis da tua água, são
Relíquias minha Menina...
Deixa-me caminhar devagar,
Como quem te abraça e,
Parar de envelhecer no tempo à espera do amor...
Do teu amor de Menina...
Maria João Reis Deus
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Dalton Ghetti
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
FLIP 2010
Um rio de luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca
No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta
Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido
Ana Hatherly
O Pavão Negro
Assírio & Alvim
2003
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Amar
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinh, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Anna Akhmátova
Juntas, hoje, nós vamos, Marina,
Moscou afora, pela noite adentro.
E como nós seguem-nos milhões,
no mais silencioso dos cortejos,
enquanto em volta tange o sino fúnebre
e geme intenso o turbilhão de neve,
de nossos passos recobrindo a marca.
Anna Akhmátova
Seletivas de Agosto - Câmara Brasileira de Jovens Escritores
Cris Tavares
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Nada lhe posso dar
sexta-feira, 9 de julho de 2010
terça-feira, 8 de junho de 2010
sábado, 5 de junho de 2010
segunda-feira, 31 de maio de 2010
segunda-feira, 24 de maio de 2010
in "Onde estivestes de noite" - 7ª Ed. - Ed. Francisco Alves - Rio de Janeiro – 1994
quinta-feira, 20 de maio de 2010
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Conselho de um velho apaixonado
Quando encontrar alguém e esse alguém fizer
seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa
mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento,
houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está
esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo
for apaixonante, e os olhos se encherem
d'água neste momento, perceba:
existe algo mágico entre vocês.
Se o 1º e o último pensamento do seu dia
for essa pessoa, se a vontade de ficar
juntos chegar a apertar o coração, agradeça:
Algo do céu te mandou
um presente divino : O AMOR.
Se um dia tiverem que pedir perdão um
ao outro por algum motivo e, em troca,
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos
e os gestos valerem mais que mil palavras,
entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.
Se por algum motivo você estiver triste,
se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa
sofrer o seu sofrimento, chorar as suas
lágrimas e enxugá-las com ternura, que
coisa maravilhosa: você poderá contar
com ela em qualquer momento de sua vida.
Se você conseguir, em pensamento, sentir
o cheiro da pessoa como
se ela estivesse ali do seu lado...
Se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos,
chinelos de dedo e cabelos emaranhados...
Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...
Se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...
Se você tiver a certeza que vai ver a outra
envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção
que vai continuar sendo louco por ela...
Se você preferir fechar os olhos, antes de ver
a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.
Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes
na vida poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.
Às vezes encontram e, por não prestarem atenção
nesses sinais, deixam o amor passar,
sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.
É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem
cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !!!
Carlos Drummond de Andrade
sábado, 15 de maio de 2010
Pessoas que passam
Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós.
Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso.
Charles Chaplin
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Charles Chaplin
Sentimos muito pouco
Necessitamos mais de humildade
Que de máquinas.
Mais de bondade e ternura
Que de inteligência.
Sem isso,
A vida se tornará violenta e
Tudo se perderá.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Recomeçar
Não importa onde você parou …
em que momento da vida você cansou…
o que importa é que sempre é possível e necessário “Recomeçar”.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo…
é renovar as esperanças na vida e o mais importante…
acreditar em você de novo…
Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado.
Chorou muito? Foi limpeza da alma.
Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia.
Tem tanta gente esperando apenas um sorriso seu para “chegar” perto de você.
Recomeçar…
hoje é um bom dia para começar novos desafios.
Onde você que chegar?
Ir alto… sonhe alto…
queira o melhor do melhor…
pensando assim trazemos pra nós aquilo que desejamos…
Se pensarmos pequeno coisas pequenas teremos ….
Já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente lutarmos pelo melhor, o melhor vai se instalar em nossa vida.
“Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura.”
Carlos Drummond de Andrade
sábado, 8 de maio de 2010
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Desejo a você...
Desejo a você…
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Crônica de Rubem Braga
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Uma tarde amena
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.
Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Compreensão
como lhes vejo agora o sentido, claramente.
Os remorsos, que inúteis, que supérfluos...
Mas eu não enxergava então o seu sentido.
Foi na devassidão dos anos juvenis
que os desígnios de minha poesia se formaram,
que se esboçaram os contornos de minha arte.
Bem por isso os remorsos não eram pertinazes
e a decisão de dominar-me, de mudar
durava, quando muito, uma semana.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
FUI
em busca de volúpias que em parte eram reais,
em parte haviam sido forjadas por meu cérebro;
fui em busca da noite iluminada.
E bebi então vinhos fortes, como
bebem os destemidos no prazer.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Candelabro
com um tecido de cor verde recamadas;
a iluminá-lo todo, um candelabro refulgente;
ardendo em cada chama sua, se pressente
uma volúpia mórbida, um ímpeto lascivo.
O quarto minúsculo se abrasa no calor
do candelabro de luzes extremadas;
nada há de banal nessas luzes, nem se deve supor
que seja feito para corpos tímidos o ardor
desse prazer tão vivo.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
ENTRE O SER E AS COISAS
ao largo vento e à rocha imperativa,
e a tudo me arremeso, nesse quando
amanhece frescor de coisa viva.
As almas, não, as almas vão pairando,
e, esquecendo a lição que já se esquiva,
tornam amor humor, e vago e brando
o que é de natureza corrosiva.
N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.
E nem os elementos encantados
sabem do amor que os punge e que é, pungindo,
uma fogueira a arder no dia findo.
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
À beira mar, na vazante
de
Maria Zélia Gomes
Vi-te em sonhos
Distante …
À beira mar
Na vazante …
Na penumbra
De um olhar …
Tinhas um
Doce sorriso
A lembrar que
O preciso …
É não deixar
De … sonhar!
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Espaços Vagos
Espaços vagos Nos espaços vazios ponho poesia. Letras aladas, rimas distraídas onde não há nada. Dia chuvoso, tempo corrido sustos, gritos. No lugar desses ponho melodia. A alma não precisa estar atada ao chão como uma casa que deseja outras [ paisagens mas está destinada à prisão. Minhas lembranças desejam viajar levitar pelo céu de devaneios [ e maravilhas. Que graça teria se a vida vivesse [ apenas de realidade? Por isso ponho poesia nos espaços vagos da vida. Cyelle Carmem Vasconcelos Pereira João Pessoa/PB |
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Na margem do Rio Piedra eu sentei e chorei
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Grafito
o homem toda manhã
tem o porte estatutário
de um pensador de rodin
neste lugar solitário
extravasa sem sursis
como num confessionário
o mais íntimo de si
neste lugar solitário
arúspice desentranha
o aflito vocabulário
de suas próprias entranhas
neste lugar solitário
faz a conta mais doída:
em lançamentos diários
a soma de sua vida.
José Paulo Paes
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Na Rua
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Desde que amanheceu
com quantos hoje se alimentou este dia?
Luzes letais, movimentos de ouro,
centrífugos pirilampos
gotas de lua, pústulas, axioma,
superpostos todos os materiais
do transcurso: - dores, exitências,
direitos e deveres -
nada é igual quando desgasta o dia
sua claridade e cresce
e logo enfraquece seu poder.
Hora por hora
com uma colher
cai do céu o ácido
e assim é o hoje do dia,
o dia de hoje.
Pablo Neruda
domingo, 31 de janeiro de 2010
Poema dos olhos da amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe dos breus...
Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...
Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus.
Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.
Vinicius de Moraes
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Amar
Amar só por amar: aqui... além...
mais este e aquele, o outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disse que se pode amar alguém
durante a vida inteira é porque mente.
Há uma primavera em cada vida:
é preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz foi para cantar.
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
que seja a minha noite uma alvorada,
que me saiba perder... pra me encontrar...
Florbela Espanca
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Perdão se pelos meus olhos
mais claridade que a espuma marinha,
perdão porque meu espaço
se estende sem amparo
e não termina:
- monótono é meu canto,
minha palavra é um pássaro sombrio,
fauna de pedra e mar, o desconsolo
de uma planeta invernal, incorruptível.
Perdão por esta sucessão de água,
da rocha, a espuma, o delírio da maré
- assim é minha solidão -
saltos bruscos de sal contra os muros
de meu ser secreto, de tal maneira
que eu sou uma parte de inverno,
da mesma extensão que se repete
de sino em sino em tantas ondas
e de um silêncio como cabeleira,
silêncio de alga, canto submergido.
Pablo Neruda
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel.
Trago-te palavras, apenas... e que não estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube
o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!
Maria Quintana
sábado, 23 de janeiro de 2010
Instante de Amor
Me ame apenas
no preciso instante
em que me amas.
Nem antes
nem depois.
O corpo é forte.
Me ame apenas
no imenso instante
em que te amo.
O antes é nada
e o depois é morte.
Affondo Romano de Sant'Anna