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Apaixonada pela poesia e pela beleza que há na vida.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Castro Alves

Hoje olhando a estante deparei-me com três pequenos volumes de poesias de Castro Alves. Ganhei os livros de minha mãe. Não sei precisar o ano em que foram editados, mas são do início da década de 70.
Castro Alves foi o primeiro poeta que li, ainda criança. Na adolescência o conheci melhor. Percebi o quanto combateu a escravidão - tema recorrente de seus versos, e retratou seus amores.
Amar e ser amado
Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano —,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante — amado —
Como um anjo feliz... que pensamento!?

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Sônia Bittencourt de Sá

Sônia, manauara e filósofa. Mora em Brasília e publicou, juntamente com as poetisas Júlia de Oliveira e Isabel Ramos, em 1999, o livro "Entre Nós: três ensaios poéticos".
Seus poemas carregam um quê de reflexão, de sentimento exposto, de peito aberto. Fazem o leitor querer ler mais uma vez para sorver cada verso. Deixo com vocês um deles.
Ilusão
Penso em vão
tua metáfora.
Um poema
sem tradução,
tua vibração
confundida com a minha,
tua ânsia mergulhada em dor.
Tua entrega
tua ausência,
o que não posso
Explicar
- tu.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Gabriel Garcia Márquez

Até agora postei apenas poesias, mas trechos de livros de tão belos bem poderiam ser poesias.
No livro 'Memórias de minhas putas tristes', último do escritor Gabriel Garcia Márquez, tem um destes trechos poéticos e desde que o li, não posso tirar da memória.

"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco.
...
Me pergunto como pude sucumbir nesta vertigem perpétua que eu mesmo provocava e temia. Flutuava entre nuvens erráticas e falava sozinho diante do espelho com a vã ilusão de averiguar quem sou. Era tal meu desvario, que em uma manifestação estudantil com pedras e garrafas tive que buscar forças na fraqueza para não me colocar na frente de todos com um letreiro que consagrasse minha verdade: Estou louco de amor."
Quando Márquez escreveu estas memórias passava dos noventa e se descobriu nascido sob o signo do amor. Descobriu mais. Descobriu que não importa a idade para estar louco de amor.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Konstantinos Kaváfis

Conheci a poesia de Kaváfis através da minha amiga Paula Martini e não foi difícil ficar encantada com os versos deste poeta nascido em Alexandria. Sua obra é relativamente pequena. Ao todo são 154 poemas, todos escritos em neogrego. Em seus poemas, Kaváfis traz um pouco da história helênica e muito sobre sua vida e seus amores.
O poema Ítaca é uma ode a viagem. Nele, Kaváfis lembra ao leitor que melhor que o próprio destino, é o caminho que percorremos para lá chegar.

ÍTACA
Se partires um dia rumo a Ítaca
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se sutil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares na jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.

Vinicius de Moraes

Vincius não precisa de apresentações. É o "poetinha" carioca. Seus versos são líricos e seus sonetos famosos. Para conhecer melhor a biografia de Vinicius visite http://www.viniciusdemoraes.com.br/.
Poética (I)
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Camuflagens

Camuflagens
Um pouco ela me enfeitiçou
e mesmo quando eu não olhei
senti como ela me encarou
e se insinuou, eu não sei
direito como começou
se eu que um pouco provoquei
se ela meio que rodopiou
e farfalhou até que eu notei
se ela foi que me atiçou
se eu no fundo que gostei
se ela um pouco me levou
ou eu que sem querer deixei
nem sei
ela não tava mais quando acordei.
Bruna Lombardi em Gaia

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Nalgum Lugar Perdido (Mafalda Veiga)
Olhar-te um pouco
Enquanto acaba a noite
Enquanto ainda nenhum gesto te magoa
E o mundo for aquilo que sonhares
Nesse lugar só teu
Olhar-te um pouco
Como se fosse sempre
Até ao fim do tempo, até amanhecer
E a luz deixar entrar o mundo inteiro
E o sonho se esconder
Nalgum lugar perdido
Vou procurar sempre por ti
Há sempre no escuro um brilho
Um luar
Nalgum lugar esquecido
Eu vou esperar sempre por ti
Enquanto dormes
Por um momento à noite
É um tempo ausente que te deixa demorar
Sem guerras nem batalhas pra vencer
Nem dias pra rasgar
Eu fico um pouco
Por dentro dos desejos
Por mil caminhos que são mastros e horizontes
Tão livres como estrelas sobre os mares
E atalhos pelos montes
Nalgum lugar perdido
Vou procurar sempre por ti
Há sempre no escuro um brilho
Um luar
Nalgum lugar esquecido
Eu vou esperar sempre por ti

sexta-feira, 17 de julho de 2009

e.e. cummings

Edward Eastlin Cummings, que literariamente sempre assinou E.E. Cummings, ou melhor, e.e. cummings (em caixa baixa), nasceu em 14 de outubro de 1894, em Cambridge, Massachusetts. Estudou em Harvard, de 1911 a 1915, especializando-se em literatura grega.
Falecido aos 67 anos de idade, e. e. cummings pertence à estirpe dos inventores da poesia moderna, ao rol daqueles poucos que realmente transformaram a linguagem poética de nosso tempo, em sintonia com o prospecto de uma civilização cujos crescentes progressos científicos vão abolindo vertiginosamente as fronteira entre a realidade e a ficção.
Abominado por críticos e poetas conservadores , cummings mereceu, em contrapartida, a admiração de escritores do porte de Marianne Moore, William Carlos William, John dos Passos e Ezra Pound.



"nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra

embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado,eu e

minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala

o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha

e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas"

(tradução: Augusto de Campos)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Florbela Espanca

As poesias da portuguesa Florbela Espanca têm um tom dramático. Seus versos bem poderiam ser fados.

Os versos que te fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

domingo, 12 de julho de 2009

Pablo Neruda

Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, nasceu em 12/7/1904, em Parral, no Chile. Mas, é conhecido como Pablo Neruda. Um poeta romântico e revolucionário. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1971. Em 1973, deixou-nos e seu último livro "O Mar e os Sinos".

Nele, temos um Neruda um tanto melancólico, mas ainda capaz de comover e envolver com seus versos.


"Perdão se pelos meus olhos não chegou

mais claridade que a espuma marinha,

perdão porque meu espaço

se estende sem amparo

e não termina:

- monótono é meu canto,

minha palavra é um pássaro sombrio,

fauna de pedra e mar, o desconsolo

de um planeta invernal, incorruptível.

Perdão por esta sucessão de água,

da rocha, a espuma, o delírio da maré

- assim é minha solidão -

saltos bruscos de sal contra os muros

de meu ser secreto, de tal maneira

que eu sou uma parte do inverno,

da mesma extensão que se repete

de sino em sino em tantas ondas

e de um silêncio como cabeleira,

silêncio de alga, canto submergido"

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Bruna Lombardi

Bruna Patrizia Maria Teresa Romilda Lombardi, mais conhecida como Bruna Lombardi. Seu lado modelo e atriz é muito conhecido do grande público. Seu lado romancista e poetisa pouquíssimo. Mas, acreditem, Bruna escreve e muito bem. Suas poesias são secas, diretas e parece que ao escrevê-las ela não quer deixar impune o leitor.
Um dia, deparei com "O Perigo do Dragão" e que perigo. Devorei cada página, cada verso, cada palavra e terminei seduzida...
"Sedução
Dentro de mim mora o animal
indômito e selvagem
que talvez te faça mal
talvez uma faísca
relâmpago no olhar
depressa como um susto
me desmascare o rosto
e de repente deixe exposto
o meu pior
em mim germina
um força perigosa
que contamina
uma paixão vulgar
que corta o ar e que
nenhum poder domina
explode em mim
uma liberdade que te fascina
sopro de vida
brilho que se descortina
luz que cintila, lantejoula
purpurina
fugaz como um desejo
talvez te mate
talvez te salve
o veneno do meu beijo."
Livros de Bruna
2008 - O Signo da Cidade, roteiro do filme, Imprensa Oficial de SP
2004 - Meu ódio será tua herança, romance, Guanabara Koogan
1990 - Filmes Proibidos, romance,
Companhia das Letras
1987 - Apenas bons amigos, infantil,
Editora Globo
1986 - Diário do Grande Sertão, registro poético das filmagens,
Editora Record
1984 - O Perigo do Dragão, poesias,
Editora Record
1980 - Gaia, poesias, Editora Codecri
1976 - No Ritmo dessa Festa, poesias, Editora Tres

sexta-feira, 3 de julho de 2009

FLIP

O Festival Literário Internacional de Paraty, ou simplesmente FLIP, começou e vai até o dia 5 (domingo). Neste período, a pequena Paraty vira uma grande biblioteca e tudo gira em torno da literatura. O homenageado desta edição é Manoel Bandeira, um pernambucano arretado e que é sinônimo de boa leitura. Deixo aqui um pequeno poema de Bandeira. Viva a poesia!

"Beijo pouco, falo menos ainda
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana
Inventei, por exemplo, o verdo teadorar
Intransitivo: Teadoro, Teodora"

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Mario Quintana

Mario Quintana, soube como poucos "poetar" as emoções com simplicidade e profundida. Suas poesias são de um lirismo ímpar. Não me canso de revisitar seus versos e tenho sempre a sensação de estar lendo pela primeira vez, tal a emoção que desencadeia em mim. Revisitando uma coletânea encontrei "Os Poemas". Aproveite!

"Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti..."
A tempos tenho a idéia de ter um blog para tratar de poesia, mas sempre protelei. Muito por falta de tempo e preguiça nas horas de folga. Mas hoje resolvi mudar esta coisa de ter uma idéia na cabeça e nenhum atitude para realizá-la. Então criei o Casa Poética para publicar poesias minhas e de outros tantos autores consagrados ou não, pretendo também colocar dicas de livros, sítios eletrônicos e tudo o mais que tenha relação com a poesia da vida.
Um grande abraço,
Cris