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Apaixonada pela poesia e pela beleza que há na vida.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Compreensão

Os anos de minha juventude, a vida de prazeres,
como lhes vejo agora o sentido, claramente.

Os remorsos, que inúteis, que supérfluos...

Mas eu não enxergava então o seu sentido.

Foi na devassidão dos anos juvenis
que os desígnios de minha poesia se formaram,
que se esboçaram os contornos de minha arte.

Bem por isso os remorsos não eram pertinazes
e a decisão de dominar-me, de mudar
durava, quando muito, uma semana.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

FUI

Não me deixei prender. Libertei-me de todo e fui
em busca de volúpias que em parte eram reais,
em parte haviam sido forjadas por meu cérebro;
fui em busca da noite iluminada.
E bebi então vinhos fortes, como
bebem os destemidos no prazer.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Candelabro

Quarto pequeno, vazio, quatro paredes somente,
com um tecido de cor verde recamadas;
a iluminá-lo todo, um candelabro refulgente;
ardendo em cada chama sua, se pressente
uma volúpia mórbida, um ímpeto lascivo.

O quarto minúsculo se abrasa no calor
do candelabro de luzes extremadas;
nada há de banal nessas luzes, nem se deve supor
que seja feito para corpos tímidos o ardor
desse prazer tão vivo.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

ENTRE O SER E AS COISAS

Onda e amor, onde amor, ando indagando
ao largo vento e à rocha imperativa,
e a tudo me arremeso, nesse quando
amanhece frescor de coisa viva.

As almas, não, as almas vão pairando,
e, esquecendo a lição que já se esquiva,
tornam amor humor, e vago e brando
o que é de natureza corrosiva.

N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

E nem os elementos encantados
sabem do amor que os punge e que é, pungindo,
uma fogueira a arder no dia findo.

Carlos Drummond de Andrade