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Apaixonada pela poesia e pela beleza que há na vida.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A arte de perder não é nenhum mistério

Em homenagem ao belo, sensível, poético filme Flores Raras, transcrevo o poema de Elizabeth Bishop, recitado magistralmente no final do filme pela atriz Miranda Otto.
"A arte de perder não é nenhum mistério;...". Não deveria ser mesmo, pois temos a certeza de que vamos perder, mas nunca nos acostumamos com isso.

A arte de perder

A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero, A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério
Elisabeth Bishop

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Poema 3

Minha boca paira em seus seios
na curta tarde cinzenta de inverno
nesta cama… somos delicadas
e brutas… tão quentes que, com a alegria, nos surpreendemos
brutas… e delicadas… jogamos anéis
em nós mesmas… nossa vela queima durante o dia
com a sua luz peculiar… e se a neve
começa a cair lá fora… cobrindo os galhos
e se a noite cai… sem aviso
estes são os prazeres de inverno
súbitos, selvagens e delicados… seus dedos
cuidadosa… minha língua cuidadosa no mesmo momento
em que para (de acariciar) diante de uma piada
meu amor… quente em seu perfume… à beira do inverno
(Adrienne Rich, 1986b, pág. 85)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Aos meus amigos...

Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos...

Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido... Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre...

Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nos e-mails trocados...

Podemos nos telefonar... conversar algumas bobagens. Aí os dias vão passar... meses... anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo...

Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas? Diremos que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto!!! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!

A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos...

Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado... E nos perderemos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores... mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!!!
Vinícius de Moraes

terça-feira, 27 de agosto de 2013

3ª Bienal do B

Hoje começa a 3ª edição da Bienal do B. A Bienal de Poesia da cidade. 
Acontece de hoje até sexta (30/8) em frente ao T-Bone Açougue Cultural na 312 Norte.
A programação pode ser conferida no sítio eletrônico http://www.t-bone.org.br/index.php/t-bone-cultural/bienal-poesia/.
Vale a pena conferir!
Para atravessar agosto, ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu sem o menor pudor, invente um.

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mario Quintana

sábado, 24 de agosto de 2013

agora ar é ar e coisa é coisa:traço
nenhum da terra celestial seduz 
nossos olhos sem ênfase onde luz

a verdade magnífica do espaço.
Montanhas são montanhas;céus são céus -
e uma tal liberdade nos aquece
que é como se o universo uno,sem véus,

total,de nós(somente nós)viesse
- sim;como se, despertas do torpor
do verão,nossas almas mergulhassem
no branco sono onde se irá depor
toda a curiosidade deste mundo
(com júbilo de amor)imortal e a coragem

de receber do tempo o sonho mais profundo

( tradução:  Augusto de Campos )

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Casa suspeita

talvez eu quisesse ser teu lado mais bonito
a parte da tua história mais repleta, plena
a coisa certa
de uma forma tão serena, tão doce
mas que ao mesmo tempo fosse
selvagem e obscena, violenta até.

que o ódio está sempre contido na paixão
e se eu tenho uma paz toda que me enfeita
trago uma casa suspeita dentro do coração

trago um crime que cometi ou que vou cometer
e jogo contra mim, jogo contra você
vivo do perigo de te fazer enlouquecer
no eterno dilema de ser e não ser
ando na beira do que pode acontecer
e morro de medo de te perder.
Bruna Lombardi

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Visitando Elisa Lucinda

De Elisa Lucinda
Euteamo e suas estréias 

Te amo mais uma vez esta noite
talvez nunca tenha cometido  "euteamo"
assim tantas seguidas vezes, mal cabendo no fato
e no parco dos dias.
Não importa, importa é a alegria límpida
de poder deslocar o  "Eu te amo"
de um único definitivo dia
que parece bastá-lo como juramento
e cuja repetição, parece maculá-lo ou duvidá-lo...
Qual nada!  
Pois que o   euteamo é da dinâmica dos dias
É do melhoramento do amor
É do avanço dele
É verbo de consistência
É conjugação de alquimia
É do departamento das coisas eternas
que se repetem variadas e iguais todos os dias
na fartura das rotações e seus relógios de colmeias
no ciclo das noites e na eternidade das estréias:
O sol se aurora e se põe com exuberância comum e com
novidade diária
e aí dizemos em espanto bom:  Que dia lindo!
E é!  Porque só aquele dia lindo 
é lindo como aquele.
Nossa sede, por mais primitiva, 
é sempre uma
loucura da falta inédita 
até o paraíso da água nova 
no deserto da nova goela.
Ela, a água, 
a transparente obviedade que 
habita nosso corpo 
e nos exige reposição cujo modo é o
prazer.
Vê:  tudo em nós comemora 
o novo milenar de si
todas as horas:
Comer é novidade
Dormir é novidade
Doer é novidade
Sorrir é novidade
Maravilhosa repetitiva verdade que se
expõe em cachos a nosso dispor
variando em sabor e temor e glória
Por isso te amo agora como nunca antes
Porque quando te amei ontem
eu te amava naquele tempo
e sou hoje o gerúndio daquela disposição de verbo
Te amo hoje com você dentro
embora sem você perto
Te amo em viagem
portanto em viragem diferente da que quando
estava perto
Meu certo é alto, forte

Te amo como nunca amei
você longe, meu continente, meu rei
Eu te amo quantas vezes for sentido
e só nesse motivo é que te amarei.
(Da série  "Eternidades Cotidianas")

Brasília, 01 de dezembro de 1994

Cris Tavares
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