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domingo, 1 de novembro de 2009

Novembro

Novembro
(Bruna Lombardi)

"As amarílis eram mais altas do que nós. E muito
mais sábias. Tirávamos fotografias inocentes e
brincávamos de náufragos. Mas nunca fomos
além da primeira curva. Da primeira pedra.
Sabíamos zumbir e o ar da tarde nos trazia
desejos estranhos.
Sabíamos a hora das lagartixas e respeitávamos
esse ritual sem palavra.
Você colecionava caracóis e isso dava um sentido à
[vida.
Eu não sei que tanto medo eu tinha que te pedia
coisas impossíveis. Ir pra saturno, adivinhar-me o
sonho, romper as barreiras da carne, comer uma
fruta amarela pequenina que eu comi uma vez e não
sei o nome, dizer se eu vivi em outro tempo e qual.
Só te pedia coisas impossíveis. Sentir exatamente o
que eu sinto o capim agridoce a nostalgia de coisas
que eu não vi. Coisas impossíveis.
Não sei se o medo era do mergulho ou de voltar
à tona. Mas as noites lá eram mais interiores.
Coisas da alma.
Besteiras. E nós gastávamos melhor essas
palavras. Coisas de infinito. De quem não sabe o
que são estrelas. Nós que pomos estrelas no
prato, na cama. Tudo reflete. Nós não sabemos
nada. Nem de estrelas nem de alma. Não sabemos,
somos pequenininhos, pequenininhos, menores
do que as amarílis.
De noite do que os vagalumes."

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